7/14/2006

POLINDO UM TRIBUTO AO CRAZY DIAMOND, SYD BARRETT

"It's awfully considerate of you to think of me here
And I'm much obliged to you for making it clear
That I'm not here."
Jugband Blues, SYD BARRETT
Como vos já foi anunciado nos obituários telejornalísticos, o fundador dos Pink Floyd, Syd Barrett, está morto oficialmente. Contudo, o Syd Barrett fundador dos Pink Floyd, há muito morrera não de diabetes, mas do fluido róseo com que baptizou a sua banda psicadélica de mil-nove-e-sessentas. LSD e o síndrome de Asperger não combinam, e tal cocktail deixa como sarro uma esquizofrenia inevitável, irrevogável.
Constará nos manuais de história, ou melhor, nos arquivos da Rolling Stone ou da lusa Blitz, como génio romântico ao jeito de Baudelaire ou Poe: de frutos tão escassos quanto saborosos, duma doçura verde e, ao mesmo tempo, dum azedume para lá do maduro.
Riremos mais ainda das suas cançonetas de rimas infantis, musicadas pela sua lira eléctrica, por cordas feridas não pela palheta, mas com o isqueiro que lhe acendia os incensos do seu transe. Lamentaremos o seu decair e o como a sua orquestra quimérica que outrora entoava hinos, ora ao travestismo dum tal Arnold Lane, à promiscuidade primaveril duma tal de Emily, ao alcoolismo do seu gato Lucifer Sam e aos piolhos de Bob Dylan, e que agora emudecera ao quase-silêncio. Ao quase silêncio dum autista de guitarra em riste, especando para o público ao vivo, enquanto borbulhava o gel que lhe escorria até ao nariz, enquanto desafinava o instrumento amplificado até à surdez, enquanto teatrava a mais fiel e hamletiana representação dum homem enlouquecendo a cada acorde.
Syd Barrett era, para a arte, o diamante em bruto do artesão. Segundo os membros da sua banda, um diamante louco. Recolheu a um exílio longe da banda que se aclamaria como melhor do mundo, para uma vida anónima em Cambridge, na pequena Bretanha suburbana. Do que fugiria? Talvez do vácuo em forma de Syd que o esvaziar da sua poesia, do seu íntimo frente milhões, fez sobrar. Ou talvez não. Syd já não era Syd desde que, ao seu médico, diagnosticado o seu estado demente, lhe respondera, plácido e sóbrio: "Do you think that is Syd's problem?". O seu Eu conjugou-se desde então na 3º pessoa.
A ele, como a qualquer falecido, não se chore a morte, mas celebre-se a vida. Pois que a obra que nos ofertou faz com que tal seja tão fácil quanto gratificante.
"Nobody knows where you are,
How near or how far.
Shine on, you Crazy Diamond!"
Shine on, you Crazy Diamond, PINK FLOYD
NVNO DISSE

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